Ontem à noite antes de sair, fui ao quarto da mãe, dei um abraço, um beijo e disse: _ “feliz dia dos pais, TE AMO MUITO”. No 29 de agosto de 1980 nasci, no 30 de agosto do mesmo ano meus pais adotivos me levaram para casa. Isso acontecera depois da mãe perder 5 crianças (aborto espontâneo). O médico disse que ela não teria filhos. Há 28 anos atrás. E numa época ainda mais preconceituosa que hoje, buscaram informação e coragem. Diz a mãe que eu era muito linda e que também passara praticamente 3 meses sem dormir a noite, esse negócio de trocar a noite pelo dia (do qual prefiro até hoje). O pai dormia. Conta, que quando eu tinha quase um ano, chegara na barriga dela e dissera:_ “nenê”. De imediato ela estranhou; então, menstruação atrasada, peito inchando, resolveu fazer o exame, no qual dera positivo. Ficou com muito medo de perder mais um. Mas os meses decorreram calmos e mesmo que o médico dizia não ser possível, ela sentia que desta vez ia dar certo. 4 meses, 5, 6, 7, 8...nasceu! A mana, Jaque chegou. A ciência depara cada vez mais com fatos semelhantes, no espiritual, meu caro, tudo é ilimitadamente possível desde sempre. Com 3 anos, conta que me disse que eu não havia saído da barriga dela e depois de saber de tudo, eu agira naturalmente. Duas meninas para cuidar, o pai, sempre trabalhou bastante, mas a mãe, como todas as mães, sempre trabalhou muito mais. No entanto, ele nunca tinha tempo p/ gente e a mãe sempre fazia um tempo.Tenho apenas a lembrança de uma vez que o pai brincou com nós, tenho muitas lembranças de quando a mãe brincou, trocou, alimentou,educou e nos aninhou a ela. O pai e a mãe se divorciaram quando eu tinha 9 anos.Para mim, nada difícil( habituada facilmente a novas situações), minha irmã tem um certo ressentimento, eu diria. O pai, que já não nos mostrava o sentido da palavra, depois do divórcio teve a oportunidade de sumir. Foi morar com nossa avó e obrigatoriamente recebia nossa visita. Aproximadamente 3 anos depois do ocorrido, ele mudara para outra cidade com outra mulher. Se antes a presença paterna já não existia, depois ela “morrera”. Desde então, todos os dias “dos pais”, beijo minha mãe e agradeço por tudo. Há 5 anos ele nos procurara. Aquela pessoa que não dera valor para as filhas tinha virado pastor (quanta hipocrisia), necessariamente, deveria nos pedir perdão. Então, ele veio a Ibirubá, almoçamos juntos, minha irmã estava toda esperançosa de que mudaria mesmo, já eu, com todos os sentimentos vi o tamanho da fachada. O dia do reencontro terminou e ele voltara p/ cidade fazer papel de bom samaritano. Sinceramente não entendo como as pessoas conseguem fazer isso. Mas o fato é que ele teve todas as chances de nos cuidar e fez de todas elas o maior descuido. Já a mãe, fizera o melhor feijão, o melhor churrasco, lavou e passou as roupas de melhor forma, deu colo, dizia meus desenhos feios serem lindos, me levou fazer curso de datilografia, teatro, informática, me escrevera em festivais de música (escolar), assistiu as peças, recebeu muito bem meus amigos, sempre nos mostrou como ajudar os outros sem pedir em troca e é a melhor avó que conheço. Não tem muito tempo que sentei no colo dela. Até meus 15 anos, não dormia sem lhe dar um beijo de boa noite e abraçar o urso que me dera para me sentir protegida. Com menos idade, lembro, de muitas noites em que pedia para que ela acendesse a luz do banheiro já que eu tinha medo do escuro, não recordo de nenhuma reclamação à respeito. Para mim, não me fez falta um pai, porque sempre vi ele na mãe. Hoje, estou no trabalho cuidando de um Senhor que também adotou uma criança, mas pelo que me contaram ele sempre foi um paizão, uma pessoa que se doou com amor e sem espera de respostas. Cheguei, dei um beijo e o felicitei dizendo ser merecido. Contudo, digo, que existem pais e pais. O meu, é desconhecido para mim, o teu, pode ser o melhor do mundo... E o que importa é ter alguém para abraçar. Tenho muita vontade de adotar também. Ainda vou fazer isso. Não espero ter um homem que me ajude, se tiver, melhor, mas se não, farei como minha mãe que sempre foi o nosso melhor pai do mundo. 

(Denise)