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GAITA POR TECLADO
GAITA POR TECLADO

Ouvindo “Capim Guiné” do Raul, deu uma saudaaaaade da casa do avô Ignácio e vó Erna. Um dia lindo que vejo da janela (serviço), se não, com certeza, convidaria a Amanda, para passearmos no bisa. Anos atrás, todos nos reuníamos no domingo. Era o dia em que a família sempre parecia maior. Ninguém precisava convidar ou combinar, chegando o primeiro dia da semana todos estariam no mesmo lugar. Rumo a Linha Pulador Norte, indo por estrada de chão, poeira e pedra solta, plantações nas laterais, hora soja, hora trigo, hora pasto. Só de saber que íamos correr naquele gramado antes e depois do almoço já era tudo. Chegando na entrada, sempre tinha alguém na janela, geralmente a vó Erna _ “A Vali e as gurias tão chegando”... e a gente ouvia aqueles alemães todos falando muito alto, sempre. Da janela a avó ia p/ porta nos receber, a bochecha mais gostosa que beijei (saudade), o vô sempre muito quieto, sorria e: _ “Entrem”... Mesmo já tendo tomado café em casa, a mesa estava posta p/ quem quisesse café com leite, pão de forno à lenha, bolacha pintada e de manteiga, salame, cuca, melado, schimia e uns quantos primos na mesa já. Os grandes ficavam em volta do fogão à lenha que de inverno a inverno não descansava. Tomavam chimarrão e misturavam o português com o alemão. A vó ainda estava escoando o leite que tirara mais cedo e separando a nata, o vô sentado do lado direito do fogão de pernas cruzadas e cuia na mão. As irmãs (minha mãe e as tias) estavam sempre fofocando da vida de alguém e nós, os pequenos pedindo p/ as mães cortarem mais uma fatia de pão e um pedaço de salame. Depois do segundo café da manhã, certamente e sempre íamos correr lá fora, onde o dia sempre foi mais vivo e a gente sempre foi mais livre. Nossa... de quantas chocas a gente correu por ter pego o pintinho que era muito fofo; ah... elas são muito brabas e não entendem que a gente só ia fazer um carinho e devolver. E as colméias, lindas e enormes colméias que ficavam no galpão... a gente queria ver as abelhas e se não batêssemos nas casas delas elas não saíam, então, eram mães gritando para que parássemos antes que nos picassem... não dava outra, saíamos disparados, mas as bichinhas eram ligeiras. Isso doía! hehehe. Íamos ver quanto refrigerante o vô tinha no porão, ele guardava engradados lá, tempo das garrafinhas, tinha coca, fanta uva e laranja e sprite... como a gente não se agüentava, o Marcos (nosso primo) já procurava um preguinho p/ fazer o furo nas tampas com cuidado p/ não quebrar as garrafas e silêncio, porque o vô já havia nos pego fazendo isso uma vez e não foi muito legal. Depois de tomarmos colocávamos no mesmo lugar, sempre pegando as mais de baixo, as que não seriam servidas no almoço do dia, então quando o vô fosse ver já estaríamos em casa. E quando pegávamos os morangos ainda verdes da horta da vó... quebrávamos galhos para pegarmos laranja de umbigo e bergamotas ela ficava muito braba e sempre sobrava p/ Marcos heheheheh (ele era uma peste) e nós suas cúmplices. A manhã passava “voando”. Ah a melhor hora do dia, a hora do almoço... sentávamos na mesma mesa do café, ali ficavam os pequenos; os pais almoçavam em outra mesa e gritavam o alemão que esperavam a semana inteira p/ liberar geral. Sempre muita comida, TV desligada e risos. À tarde, a mãe e as tias, saíam ver os porcos, caminhar no potreiro e colher frutos. Nós as acompanhávamos, também olhávamos os porcos que subiam nos cercados e roncavam mais alto esperando a espiga de milho que cada um levava consigo. Se eu fosse com blusa vermelha tinha medo de entrar no potreiro porque o vô dizia que tinha um boizinho brabo e que ia me pegar (ele sempre dava uma risadinha), mas eu ia igual armada de um pedaço de pau que nunca usei. Caminhávamos ao redor dos açudes, jogávamos pão aos peixes e entrávamos nas sangas onde sempre nos molhávamos mais do que podíamos e sempre ouvíamos mais do que gostaríamos. Subíamos no trator, na plantadeira, no carretão, segurávamos o rabo das vacas, tentávamos tirar leite, colocávamos ração nos cochos, procurávamos ovos onde as galinhas estivessem cantando, derrubávamos os barrancos fugindo do vô que gritava que ali tinha soja plantada, entrávamos no mato em busca de novos cipós para nos pendurar, comíamos baldes de uva e roubávamos pencas de salame p/ comer no meio do mato, bem longe do vô. Ainda de tarde, ali pelas quatro horas, comíamos de novo. O Vô puxava a gaita e tocava: “Que beijinho doce que ela tem, depois que beijei ela, nunca mais beijei ninguém”... ou tantas outras em alemão, onde a gente tentava imitar e mais outras só tocadas onde eu sempre batia uma latinha (desde lá hehehe), agora, lembrando disso, ninguém me xingava... legal! Pelas cinco e meia iriam tirar leite, ou íamos junto, ou íamos para casa exaustos, cheios de sacolas cheias de potes com schimia, maionese, ovo azedo, cucas, bolachas, mudas de flor. Sempre foram nossas noites mais bem dormidas. Ai... ai... as pessoas não deveriam crescer e perder sua ingenuidade. Mas elas crescem e ainda se separam... O Felipe (meu amigo) me disse que eu me despia em meus textos... mas, é essa a intenção, ficar nua p/ quem me quiser ler e sempre ter uma história p/ contar... e essas que me dão tanta saudade então, sempre vão ser as que mais me mostro. São as que mais me fazem falta, assim como a bochecha da vó Erna que onde estiver sente-se beijada... SAUDADE!...É... a gente cresce e tudo muda... o vô trocou a oito baixos vermelha por um teclado preto fosco e nós trocamos os dez pelos vinte e poucos... 

 

 

”_NÃO PLANTO CAPIM GUINÉ P/ BOI ABANAR RABO EU TÔ VIRADO NO DIABO EU TÔ ARRETADO POR VOCÊ, TA VENDO TUDO E FICA AÍ PARADO COM CARA DE VEADO QUE VIU CAXINGUELÊ”... 

(Denise)




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